mergulhem-se

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sete poemas portugueses (5) - Ferreira Gullar, poesia

Prometi-me possuí-la muito embora
ela me redimisse ou me cegasse.
Busquei-a na catástrofe da aurora,
E na fonte e no muro onde a sua face,
Entre a alucinação e a paz sonora
da água e do musgo, solitária nasce.
Mas sempre que me acerco vai-se embora
como se me temesse ou me odiasse.

Assim persigo-a, lúcido e demente.
Se por detrás da tarde transparente
seus pés deslumbro, logo nos desvãos

das nuvens fogem, luminosos e ágeis!
Vocabulário e corpo - deuses frágeis-
eu colho a ausência que me queima as mãos.

3 comentários:

Ramsay disse...

cuidado com os poemas que vc escolhe!

Anônimo disse...

Me identifiquei esse em algum nível que não sei bem qual.

trak amorim disse...

lindissímo poema. tocou-me em particular.